Anhanguera piscator

Fala pessoal, prontos para desbravar os céus do Mesozoico?

 

Nesse post, iremos conhecer o Anhanguera piscator, o pescador dos mares cretácicos aqui do Brasil!

Pintura Anhanguera piscator

O Anhanguera foi um gênero de pterossauro que habitou o Brasil durante o período Cretáceo, sendo um réptil voador com hábitats costeiros. A espécie Anhanguera piscator está entre as maiores em envergadura de asas, além de possuir um dos mais completos materiais fósseis preservados.

O nome Anhanguera foi dado à primeira espécie descrita em 1985, sendo a intenção dos autores relacionar o nome ao termo em tupi Anhanguera, traduzindo em português seria algo como espírito velho ou diabo velho. Não confundir com o Anhangá, que é um “elemental” da natureza, erroneamente interpretado como um tipo de demônio. A espécie recebeu o nome de piscator, em latim pescador, pois já está bem claro para comunidade científica que a dieta desses pterossauros era constituída em sua maioria por peixes e outros seres aquáticos. 

 

   As primeiras prospecções de fósseis de pterossauros no Brasil tiveram grande êxito na região da Chapada do Araripe, sendo a primeira espécie de Anhanguera batizada em 1985. Dezenas de outros restos incompletos desses répteis alados foram coletados e estudados no Brasil e no exterior, fornecendo a imagem de uma pré-história brasileira repleta de diferentes tipos de animais voadores.

   Anhanguera piscator foi descrito no ano 2000, pelos paleontólogos Alexander Kellner e Yukimitsu Tomida, sendo que o fóssil do pterossauro pertence ao Museu Nacional da Natureza e Ciência da cidade de Tóquio, no Japão. A análise indica a possibilidade do fóssil ter sido coletado nos arredores da cidade brasileira de Santana do Cariri, estado do Ceará. O translado do material fóssil até o Japão ocorreu por vias irregulares, no contexto do comércio ilegal de fósseis, conforme as leis brasileiras desde 1942.

  O traficante em questão foi o italiano Flavio Bacchia, já investigado pela Polícia Federal, sendo que o mesmo disse jamais ter estado no Brasil e comprado o fóssil na década de 90 de um alemão já falecido. O museu japonês anunciou a presença do fóssil em 1992, sendo então feita uma parceria para estudo em conjunto do material, com cada país representado por um pesquisador, Kellner e Tomida, respectivamente. Na época, através de uma declaração à imprensa, o paleontólogo japonês Tomida disse desconsiderar a legislação brasileira quanto a ilegalidade da venda do fóssil, pois para ele se estão vendendo então está tudo legal. O estado do Ceará entrou com o pedido de repatriamento em 2002, porém o fóssil não retornou até os dias de hoje.

     Enfim, a descoberta desta espécie de Anhanguera corroborou em demonstrar a variabilidade desses pterossauros durante o Cretáceo, a fauna dos diversos tipos de Anhangueras no Brasil e a possibilidade de estudar melhor esses animais, já que o Anhanguera piscator contém praticamente todos os fósseis preservados, ainda articulados e em excelente estado tridimensional de preservação. Isto possibilita uma melhor comparação e estudos por parte dos pesquisadores.

Onde os fósseis de Anhanguera piscator foram encontrados?

Os registros de Anhanguera piscator são oriundos da Formação Romualdo, Bacia do Araripe, no nordeste do Brasil. Essa região é rica em fósseis e permeia os estados Pernambuco, Piauí e Ceará.

A formação geológica de Romualdo, anteriormente denominada Membro Romualdo da Formação Santana (em homenagem ao povoado de Santana do Cariri) situa-se na base da Chapada do Araripe. Ela é composta de abundantes concreções calcárias,  frequentemente fossilíferas, incluindo muitas formações de nódulos calcários. Ao lado, um exemplo de Peixe fóssil (Calamopleurus sp.) encontrado em nódulo calcário do Membro Romualdo (Formação Santana) da Bacia do Araripe.

Nódulo calcáreo

A Formação Romualdo ganha a designação de Lagerstätte (depósitos sedimentares ou jazidas que apresentam fósseis extraordinários ou com preservação excepcional, por vezes até mesmo incluindo a preservação de tecidos moles, como músculos) devido a um conjunto faunístico fóssil extremamente bem preservado e diversificado. Cerca de 25 espécies de peixes fósseis são frequentemente encontradas com conteúdo estomacal preservado, permitindo que os paleontólogos estudem as relações predador-presa neste ecossistema. Além de pterossauros, também há bons exemplos de invertebrados, crocodilomorfos e até mesmo dinossauros (Spinosauridae, Tyrannosauroidea, Compsognathidae) registrados no local. 

Qual era o tamanho desse bicho?

 

   Anhanguera piscator foi um pterossauro de grande porte, sendo um réptil alado com um bico longo, a extremidade em formato de semicírculo achatado, com dentes bem longos e cônicos que saem de sua boca. O quarto dedo da mão é completamente alongado para sustentar as asas, formadas por uma membrana resistente para permitir o voo e, para completar, seu corpo era recoberto por pequenas fibras semelhantes aos pelos, chamadas picnofibras (assim como em outros pterossauros).

   A espécie piscator poderia chegar até 1 metro de comprimento e 6 metros de envergadura de asas. Esta incerteza se dá visto que o fóssil encontrado media até 5 metros de comprimento, porém se trata de restos de um Anhanguera piscator juvenil, ou seja, ele ainda iria crescer muito mais. Ao que tudo indica, esses pterossauros viviam na costa, se lançando ao mar ou sobrevoando-o atrás de peixes e outros frutos do mar. Nem todo pterossauro tinha dentes, o que não é o caso do Anhanguera piscator, então pode-se inferir que os dentes longos ajudavam a capturar e prender peixes escorregadios.

   Um fato importante é o formato de seu bico, pois como ele era novo e não se sabe o sexo, provavelmente o formato final dele poderia ser um pouco maior ou talvez mais côncavo. Mais espécimes precisam ser estudados para se chegar a um consenso.  

Seu tronco alongado e os pés largos eram adaptados para nadar, mas, por causa do corpo e o pescoço compridos e as pernas relativamente curtas, o Pterodaustro devia ter dificuldades para alçar voo. Desse modo, ele precisava decolar em um ângulo baixo e em áreas abertas, muito semelhante aos gansos e cisnes de hoje.

 

Um estudo sobre a biomecânica do vôo de Anhanguera piscator conduzido por Strang et al. (2009) constatou que, no solo ou boiando na água, esses pterossauros não ficavam desprotegidos, pois tinham a capacidade de se lançar novamente no ar sem nenhuma dificuldade. Se algum predador aparecesse, provavelmente ele se lançaria ao céu, batendo as asas rapida e efetivamente para não ser alcançado.

Classificação científica 

 

 

Reino: Animalia

Filo: Chordata

Classe: Reptilia

Ordem: Pterosauria

Clado: Ornithocheirae

Família: Anhangueridae

Gênero: Anhanguera

Espécie: Anhanguera piscator  Campos & Kellner, 1985.

 

Dados do Pterossauro 

Nome científico: Anhanguera piscator  Campos & Kellner, 1985.

Época: Cretáceo Inferior, Aptiano (aproximadamente há 125 milhões e 113 milhões de ano).

Registro fóssil: Formação Romualdo, Bacia do Araripe, Brasil.

Tamanho: aprox. 2,5m de envergadura.

Habitat: costeiro.

 

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Referências Bibliográficas

 

 

Costa, F. R., Rocha-Barbosa, O., Wilhelm, A., Kellner, A. W. A. 2014. Myological reconstruction of the pelvic girdle of Anhanguera piscator (Pterodactyloidea) using three-dimensional virtual animation. Rev. bras. paleontol. 17(1):11-21. doi: 10.4072/rbp.2014.1.02

Costa, F. R., Rocha-Barbosa, O., Wilhelm, A., Kellner, A. W. A. 2014. A biomechanical approach on the optimal stance of Anhanguera piscator (Pterodactyloidea) and its implications for pterosaur gait on land. Historical Biology. 26 (5).

Kellner, A. W. A., Tomida, Y., Description of a New Species of Anhangueridae (Pterodactyloidea) with Comments on the Pterosaur Fauna from the Santana Formation (Aptian-Albian), Northeastern Brazil, National Science Museum, Tokyo, Monographs, No. 17, 2000, 135 pp.

Pinheiro F. L., Rodrigues T. 2017. Anhanguera taxonomy revisited: is our understanding of Santana Group pterosaur diversity biased by poor biological and stratigraphic control?  PeerJ. 4:5. doi: 10.7717/peerj.3285

Strang, K., Kroo, I., Gerritsen, M., Delp, S. 2009. Efficient flight of pterosaurs – an unsteady aerodynamic approach. 47th AIAA Aerospace Sciences Meeting Including The New Horizons Forum and Aerospace Exposition. doi:10.2514/6.2009-1301 

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